Os capuchinhos no Brasil e no Ceará
A primeira missa celebrada no Brasil foi por um franciscano observante, Frei Henrique Soares de Coimbra, que veio nas caravelas de Cabral. Já os primeiros capuchinhos a desembarcarem no Brasil eram franceses e vieram no período em que S. Luis do Maranhão era colonizada pela França, ou seja, há mais de 400 anos. Nos séculos seguintes muitos missionário itinerantes, sobretudo italianos, andaram pelo Nordeste, administrando os sacramentos, construindo igrejas, cemitérios, açudes, estradas e pontes. Eram as chamadas “desobrigas” e depois “Santas Missões”, onde a presença do sacerdote possibilitava às pessoas ficar em dia com as “obrigações” diante da Igreja.
Para implantar a Ordem no Norte do Brasil, no início do século XX, foi enviado um grupo de frades do Norte da Itália (Lombardia), da província de Milão. A missão se estendia do Ceará até o Amazonas. Após trabalharem em Canindé, construindo convento, basílica e um liceu de letras, artes e ofícios, decidiram dedicar-se mais á missão, estabelecendo como sede o Convento do Coração de Jesus, hoje no centro de Fortaleza. Sobretudo o trabalho nos leprosários, escolas e missões populares caracterizou este período.
Os Frades CAPUCHINHOS são um dos três ramos masculinos mais antigos da ORDEM DOS FRADES MENORES, fundada por S. Francisco de Assis, que ao longo da história subdividiram-se em Menores Observantes, Menores Conventuais e Menores Capuchinhos. Francisco escolheu este nome por conta dos status sociais do seu tempo: “MAIORES” (nobreza e clero), “MINORES” (plebeus- artesãos, comerciantes). Cada grupo quis realçar algo específico do carisma franciscano. Os Capuchinhos buscaram uma vida de mais austeridade, oração, mendicância e pregação itinerante. Por isso, estabeleciam seus conventos perto das cidades, mas nunca no centro, para poderem ter momentos intensos de meditação ao retornarem da pregação.
Embora chamado por muitos de “mosteiro”, esta designação de moradia é própria dos monges, o que não é o caso dos frades, estes habitam “conventos”. Foi construído pela engenharia e o suor dos próprios frades em estilo lombardo, com jardins e claustros amplos que possibilitavam a oração mental peripatética (em silêncio e caminhando) muito comum na época. Fotos da época mostram que no jardim havia uma cisterna ou poço com uma pequena gruta de São João Batista, depois trocado por Nossa Senhora de Lourdes. Ainda restam duas árvores antigas (ciprestes) cujas sementes foram trazidas da Itália. No sítio eram cultivados café, frutas, verduras, hortaliças e animais.
Com a saída de Canindé o bispo de Fortaleza sentiu-se devedor aos frades pelo muito que lá fizeram, e quando estes procuravam um lugar retirado para construir uma casa de formação para as muitas vocações que apareciam, foi-lhes oferecido em Guaramiranga, pela Diocese, o terreno onde já existia a Capela de Nossa Senhora de Lourdes, construída pela família Caracas e doada à Diocese. O local mostrou-se ideal para o propósito de reunir os jovens formandos da Bahia até o Amazonas. E por mais de 60 anos, o Convento da Gruta foi importante celeiro de vocações nas diferentes etapas da formação dos frades, sobretudo na mais importante delas, o noviciado, depois do qual o candidato recebe o hábito e professa os primeiros votos de Pobreza, obediência e Castidade. Ao mesmo tampo, até hoje, os frades assistem pastoralmente a Paróquia da Cidade.
Onde hoje é a Sala S. Francisco (auditório grande) era o coro, local de oração dos frades e noviços. Na parede que divide este ambiente da igreja vê-se uma espécie de funil de madeira. É a “luneta”, que servia para que os noviços, impedidos de contato com o exterior no ano da provação, pudessem ouvir a missa celebrada no altar atrás, visto que, até os anos 60, o padre celebrava de costas para o povo e de frente pro altar (versus Deo).
